Piracicaba Nunca Esqueceu
A história das salas de cinema em Piracicaba

Chico Andia

DARA: Queria saber o porque você entrou nesse ramo, de salas de cinema

CHICO: De cinema:

DARA: Uhum

CHICO: Eu comecei a adorar cinema com doze anos de idade

DARA: Nossa

CHICO: Estudava em candoliseu nossa senhora auxiliadora em campinas, e lá tinha uma sala de cinema e foi a primeira vez que eu vi cinema, me apaixonei, sempre adorei cinema

DARA: Foi amor à primeira vista

CHICO: Mesmo antes de ter cinema, eu tinha projetor, alugava filmes em dezesseis milímetros, em São Paulo, e exibia na minha casa, meu pai gostava, a família gostava, sedia para alguns outros amigos

DARA: Uhum

CHICO: Principalmente alguns filmes da Universal, que, que eu mais tinha acesso, então cinema foi a minha paixão (Risos)

DARA: (Risos) E, falando um pouco dos cinemas hoje em dia assim, é queria saber se voce cogitou, é chegou a cogitar abrir um sho… abrir alguma sala de cinema no shopping, quando ele veio para Piracicaba?

CHICO: Em Piracicaba, uhum, quando me ofereceram abrir as duas salas, eles pediram um absurdo de lucro, eu falei não, não é possível, é muito caro, e a paris filmes abriu essas duas salas, depois fechou

DARA: Isso

CHICO: E eu tive cinema de shopping, mas em limeira

DARA: Amm, e você sabe o porque da paris filmes fechou

CHICO: Porque não tava lucro era só duas salas

DARA: Amm

CHICO: Ela fechou Piracicaba e limeira, também tinha duas salas

DARA: E depois da paris filme que veio o cine araújo e que aí

CHICO: Assim bem depois né

DARA: Ficou um tempo sem cinema

CHICO: Do shopping ficou, porque dai eles, abriram em outro lugar, porque os dois cinemas, eram perto da pizza hut, era daquele lado duas salas

DARA: Amm entendi, aí fechou, mas esse tempo que fechou ainda tinha cinema de rua?

CHICO: Tinha, tinha, ooo rivoli, tinha o acho que o Tiffany, o Colonial, o Politeama fechou em 81, 80 por ai, não me lembro se tinha o Politeama, mas o rivoli eu tenho certeza que tinha, o colonial e o Tiffany

DARA: Entendi, então não ficou sem cinema piracicaba, Piracicaba só, então começou a contar com cinema de shopping só nos anos 2000 assim, só depois que fechou o cinema

CHICO: Olha eu não me lembro da data, mas eu não sei se foi 2000 ou um pouco antes, a data precisa não lembro, mas é, mas eles tiveram construído aquela parte onde é hoje, onde é não sei quantas salas é que tem porque acho que fui lá uma ou duas vezes só

DARA: Nossa, a ta com la, ta com umas oito salas se não mais eu acho

CHICO: É?

DARA: É lá ta com bastante

CHICO: Umhum, é frequenta cinema hoje não, não gosto mais, prefiro assistir streaming em casa, que voce vai la, eles falam, jogam pipoca no outro, não é mais aquele, aquela, o que era o cinema, todo mundo em silêncio, se entra dentro do filme, você senti o filme, você vai num lugar onde um fala, o outro responde lá, então deixei de frequentar cinema

DARA: Cê acha que antigamente, bom na verdade ce tenho uma pergunta, o que voce acha que o cinema de shopping tem, que os cinemas de rua não tinha?

CHICO: Segurança, estacionamento, são as duas coisas principais do cinema de shopping, e também tem a facilidade com os cinemas digitais, tão é essa mudan~ça que o cinema de rua não tinha, e a dificuldade de ter uma sala com mil lugares, é hoje os shopping tem duzentos, duzentos e poucos lugares

DARA: E você acha que as vezes, por ter esses mil lugares assim, e deixava o cinema um negócio mais grandioso, ce acha que hoje em dia por ter a sala ser menores assim como se fosse um certo, perdendo um respeito pelo filme, cê acha

CHICO: Exatamente isso, na minha época, que do, que do rivoli tinha por exemplo o lanterninha, não sei se hoje tem ainda, quem levava as pessoas, se tivesse alguém fazendo algazarra falando alto, ele ia lá e chamava atenção se não obedecesse tirava do cinema, se podia tirar, então era silêncio, ce ia assistir o filme você não gostava saia e ia embora, mas não falava, era gostoso o cinema, hoje não tem mais isso, é outra coisa que me irrita um pouco no cinema de hoje, é que ele é, aqui em piracicaba não sei, São Paulo tem cinema lá do shopping JK que é o melhor que existe no Brasil não conheço, mas o som muito alto e qualidade baixa

DARA: É

CHICO: É qualidade som, é eu fui uma vez aqui porque eu passei em frente lá, vi uma, uma pessoa uma companhia não sei se era columbia ou outra, “chega aqui vem conhecer”, entrei para conhecer, eu não não gostei, mas já faz tempo também, pode ser que já tenha melhorado

DARA: Mas você sabia que tava na aula e era aula de som e o professor chegou e falou assim “quem aqui quando o cinco ponto um da sala não tá funcionando repara e vai lá e avisa”, a sala todo mundo ficou assim em silencio, ai eu fui levanta a mão e ninguém levantou a mão, ai eu “ata”, porque eu também quando não ta funcionando o cinco ponto um eu falo tem uma caixa aqui que não ta funcionando, ate hoje eu reparo assim

CHICO: É eles… eles ponhe alto pra dai dá impressão que que, mas a qualidade do som não é boa, não são todos os cinemas que tem boa qualidade

DARA: Concordo, é o que você acha que os cinemas de rua tinha, que os de shopping não tem então

CHICO: Aparência externa por exemplo, todos os cinema eram feitos com, com uma arquitetura bonita, o broadway mesmo era bonito, o Palácio também, o colonial nem tanto, porque foi uma adaptação, os cinemas tinham um glamour, tanto aqui em piracicaba, como na europa, em todo lugar os cinemas de rua eram bonitos, você ia no cine marrocos em São Paulo era um espetáculo, no shopping se não, como se fosse numa sala da sua casa, vamos dizer, não tem aparência, de resto

DARA: É ou seja os cinemas de rua chegaram a coexistir com os cinemas de shopping

CHICO: Sim

DARA: E… como é que foi essa coexistência, quando

CHICO: Bom primeiro que shopping, cinema de shopping foi é novidade, e eu, eu tive pesquisando, porque nos estados unidos quase não tem cinema em shopping, são centros de cinema, certo, tem cinco, seis sete cinemas, salas, como se fosse um shopping, mas não é em um shopping, aqui no Brasil, o cinema de shopping levou muito vantagem, é antigamente no cinema de rua, que não tinha shopping, quando chovia, a gente ficava feliz, porque o povo não tinha onde ir ia no cinema, com o shopping mudou, quando chove o pessoal vai no shopping, quando ta frio vai no shopping, tá muito calor vai no shopping tem ar condicionado, então essa concorrência foi fatal para o cinema de rua

DARA: É, de cabeça assim que você lembra quais eram os hábitos mais comuns então para quem frequentava os cinemas de rua

CHICO: Em que sentido? dias, os melhores dias, ou… fim de semana que o povo, era um programa ir ao cinema, era domingo, a pessoa ficava aqui em piracicaba na rua governador, até umas oito e meia nove horas, depois ia na sessão de cinema, então era um programa como hoje é um programa ir no shopping, isso mudou

DARA: E, você chegou a ter um cine driving aqui em piracicaba

CHICO: Eu cogitei, mas não foi feito

DARA: Não foi feito?

CHICO: Não

DARA: Ah, entendi, porque não foi feito?

CHICO: Porque o driving, foi uma onda curta no Brasil, eu me lembro, que eu forneci filme para um driving de americana, mas durou pouco tempo também

DARA: Entendi, porque você acha que não

CHICO: Não sei, não teve aceitação no brasil, nos eua tem até hoje, mas o brasil, o driving não

DARA: Não ficou assim

CHICO: Muito pouco tempo

DARA: So ta tudo certo, so, ta, ta raspando? Tudo certo. Então começando a falar sobre as salas de cinema em si, é qual seria sua ligação com o cinearte

CHICO: O cinearte é, tinha um grupo de entusiastas de cinema, que me procuraram, que me procurou para fazer, se daria para colocar, fazer o cinema, na parte de baixo do teatro, vamo ver la, da um cinema aí de uns duzentos lugares, da, “então vamo fazer cê topa”, eu falei “claro, vamo montar o cinema”, e é várias pessoas inclusive Dante Martane, que hoje é não tenho mais contato com ele, mas ele foi o principal técnico de som do brasil

DARA: Nossa

CHICO: Ele é um gênio em matéria de som, então nos ficamos muito amigos e ele começou a dar assistência nos nossos cinemas na parte do som, e tinha o outro que agora não me lembro o nome, pessoas que, nos formamos uma comissão para escolher os filmes, então eu pegava nas companhias, os filmes de arte, trazia a lista, nos reunimos e escolhiamos os filmes que iam passar e foi ate fechar ate o indutor la, os cinema, cabou com cinema, uma chuva forte que deu, ali no teatro sempre teve esse problema

DARA: Sim

CHICO: Mas só que a última chuva que deu la naquela ocasião inundou o cinema ate um metro e meio de água acabou com as poltronas tudo, então fechou, mas era um cinema que só passava filme de arte

DARA: Entendi, e

CHICO: E não era comerciais, os filmes de arte nunca foram filme de bilheteria

DARA: Entendi, aí a sua motivação para abrir esse cinema foi então essa comissão que foi criada então

CHICO: Isso do tempo do prefeito João Heber Neto

DARA: Ah entendi

CHICO: Que era meu amigo tal, conversamos ai resolvemos, fazer cinema, sem muita expectativa de lucro, era mais para ter o cinema de arte, que no politeama tinha uma sessão, acha que era uma vez por semana, que chamava sessão maldita, que passava filme de arte essas coisas, mas era uma sessão só, depois da primeira sessão era a segunda sessão, então piracicaba ficou sem cinema de arte, então foi uma oportunidade

DARA: E acabou sendo o último cinema de rua né esse?

CHICO: E foi quando inundou acabou, fechou

DARA: Acabou o cinema de rua, e esses anos de funcionamento do cinearte, é qual que era mais ou menos o público que frequentava

CHICO: Pessoas de mais idade, e digo idade, digo assim acima de 40, 50 anos, jovem não é muito de filme de arte

DARA: Entendi, e você tem alguma assim história, alguma lembrança que envolva assim esse cinema?

CHICO: Inauguração, né que o grande otelo esteve aqui para inaugurar chamava sala grande Otelo ne, em homenagem a ele, e ele veio para inauguração, tava doente, saiu do hospital e veio para Piracicaba

DARA: Fez questão de aparecer é

CHICO: Fez, disse que não ia perder a oportunidade, do cinema fazer homenagem a ele

DARA: E ele ficou sabendo quando fecho?

CHICO: Acho que ele já tinha morrido, aqui ele fala da sessão maldita

DARA: Ai fala comenta

CHICO: Caramba, tá escrito aqui os recados do teixeirinha, esse daqui foi ele que escreveu esse artigo

DARA: Ah, que bacana, a eu ouvi fala dele da unimep

CHICO: É tinha ele o Dante Martene, e outro ali que eu nunca lembro o nome

DARA: (Risos)

CHICO: Mas não importa eu falei do dante martene porque esse ta na ativa, que eu saiba até agora como técnico de som

DARA: Que legal nossa

CHICO: Tem um fato interessante do Dante bem rapidinho, ele tava no rio de janeiro para inaugurar um cinema de shopping la e veio uma equipe dos estados unidos especialista em som e ficaram até altas horas pra acertar o som do cinema e não conseguiram, o Dante ficou lá e não foi dormir quando eles chegaram no dia seguinte eles falaram “pô o que o som tá ótimo” diz que ele tinha acertado o som, ele é, era um gênio em matéria de som

DARA: Que legal, nossa, era…

CHICO: E ele trabalhava para mim, os meus cinemas todos, ele trabalhava não para ganhar dinheiro, porque era porque ele gostava mesmo, nos ficava assim ate meia noite uma hora para acertar um som para deixar

DARA: Que legal

CHICO: Era prazer

DARA: Que legal, e continuando nas salas de cinema né, é eu gostaria de saber qual foi a sua ligação com o cine Tiffany/Broadway

CHICO: O quando nos comprou a cinema do interior, o fazia parte o broadway, o Politeama eu acho que só em piracicaba, polícia, era fornecimento de filme não tinha nada haver com a cinema interior, mas tinha cinema em Limeira, americana, capivari e vários cinemas, mas Piracicaba era os dois, ai em são José tinha, mas são José logo após fechou e quando nós construímos o cineplaza o prédio do São José tava para vende e so que eu tinha que fazer despejo na época da cinema do interior, aí conversando com meu, pai era melhor nós construí cinema do que compra esse e depois de espera despeja vai ser difícil, e construímos o cine plaza que só funcionou dois anos, o prédio caiu e acabou o cinema, era um cinema maravilhoso, um dos melhores cinemas do estado de cinema pelo menos era

DARA: E como é que era o, em que quesitos assim o cine plaza era tão

CHICO: Ele foi construído com engenheiro, com técnicas, som no teto, na época, e uma, uma cortina linda, eu acho que eu mostrei fotografia pra você né? não mostrei?

DARA: O cine plaza não nunca vi

CHICO: Eu tenho um… tanto assim de foto só do cine Plaza

DARA: Ah, nossa, a essa depois eu quero ver (risos)

CHICO: Eu vou ver ta aqui em casa, eu acho que eu acho fácil, mas era um cinema classe a

DARA: Que legal, e aí nesses dois anos de funcionamento assim, depois assim caiu o prédio, e como é que foi assim, voce tava lá quando caiu o prédio

CHICO: Tava

DARA: Cê tava no cinema?

CHICO: Tava no escritório do cinema, foi a única parte que não caiu, não desmoronou

DARA: Nossa é

CHICO: A parte que não desmoronou tava eu, meu pai, um amigo meu

DARA: E como é que foi isso, se tava lá o prédio começou a tremer?

CHICO: Tremia chão, tremia tudo, inclusive a parede, tava esperando morrer, ai caiu tudo, morreram todos que tavão lá

DARA: Só você…

CHICO: Eu Meu pai, esse meu amigo meu e um funcionário que tava no banheiro, que ficou mais longe da queda, só nós quatro

DARA: Nossa, como é que vocês saíram assim dos escombros?

CHICO: O cinema ele era, tinha uma inclinação, as escadas subiam de um, duas escadas que subiam do meio do cinema, tão ele tinha uma parte que ia até onde dia a máquina de ar condicionado, que era dessa altura assim no fim, e nós saímos por lá, eu sabia que lá tinha uma grade, tiramos a grade, saímos lá dá na rua São José

DARA: Que coisa e como é que você sentiu assim quando cê viu o cinema, que não tinha concerto ne

CHICO: Foi um baque muito grande, eu fiquei lá, o dia todo durante 15 dias até tirarem o último cadáver que era o gerente de cinema meu, foi um, foi eu fiquei muito abalado, até hoje se eu tiver num prédio e ter uma tremida eu

DARA: Imagino (Risos)

CHICO: Não foi fácil

DARA: Imagino também, é bom retomando do cine broadway do tiffany, então você tava com o cinema anterior e ce decidiu comprar o broadway

CHICO: Não, quando nós compramos, quando tinha cine plaza, nós já tínhamos comprado, não, não tinha comprado ainda não, nós compramos em mil novecentos e setenta, a cinemas do interior, na época que nós tínhamos o Palácio e o colonial e o plaza, quando caiu o plaza, aí nós reformamos o Palácio, totalmente, contratei um engenheiro especialista em cinema e foi modificado o teto, trocamos as poltronas tudo, por isso que mudamos o nome, ele ficou totalmente diferente, era outro cinema

DARA: Isso do…?

CHICO: Do rivoli

DARA: Do rivoli

CHICO: Do broadway foi a mesma coisa, reformamos, melhoramos todo o cinema, é paredes, poltronas, essas coisas todo e também resolvi muda o nome pra saber que era o novo cinema

DARA: Então tanto o Rivoli, como o Broadway, quando você comprou, você reformou e mudou o nome

CHICO: Já tinha, já tinha, o broadway foi depois, quando tinha comprado a cinemas do interior o Palácio não, nós não tínhamos a cinema do interior ainda, nós éramos concorrente

DARA: Ah, entendi

CHICO: Daí, como a amizade que eu tinha com o filho do Burlamaqui de andrade, za luis de andrade, por causa do distribuidor arrumar filmes, criei amizade com eles, acabei comprando a empresa

DARA: Entendi, que aí os cinemas…

CHICO: Dai sim foi o broadway o politeama, aqui em piracicaba, depois Limeira, Vitória, depois Brasil em americana, o outro lá em capivari, que eu nem me lembro o nome, vera cruz, capivari, tinha um em santa Bárbara, é dois em americana, então nós compramos essa rede de cinema que pertencia ao José Burlamaqui de andrade, mas quem tomava conta era o cunhado dele, o… como é que chamava? Luis Pamplona

DARA: E como é que foi esse que o Broadway era assim… foi um dos cinemas mais comentados assim quando…

CHICO: Sim, na época Piracicaba só tinha dois cinemas, o São José que era mais popular, e o broadway que era mais chique, só esses dois, esse Politeama, que é antigo não cheguei conhece

DARA: Entendi, e esse Politeama, acha que ele foi na década de trinta

CHICO: É..

DARA: Ele foi mais antigo (risos)

CHICO: Mais antigo do que eu (risos)

DARA: E do Politeama então que a gente, indo pro assunto, teve então o novo e o antigo, se sabe se eles, se o antigo foi no mesmo local que o novo, ou cê sabe

CHICO: Eu acho que não, o, antes de ser cinema, o último Politeama, tinha uma sala de jogo, joga, dai a família que era proprietária, construi esse prédio na frente de três andares, e o cinema, então eu… me consta que não é no mesmo lugar, o outro acho que ficava na esquina, onde é o banco itaú hoje

DARA: Ah entendi

CHICO: Mas não cheguei nunca nem, ouvi falar so

DARA: (Risos) So, só de nome assim, a eu vou até anotar aqui… (risos), e o do paulistinha que a gente tava falando antes

CHICO: Do paulistinha nunca tive nada, paulistinha (risos), o paulistinha só fornecia filme pra ele, os filme que exibia no Palácio, no colonial, no broadway, o Politeama, ia pra lá, exibia, mas não tinha nada de ligação nenhuma, só conhecia os irmãos cassano que eram donos do cinema, mas não tinha nenhuma ligação com eles

DARA: E você sabe o porque o paulistinha eles acabaram construindo tão longe das outras salas de cinema

CHICO: Acho que foi um capricho deles… de, de, de eles moravam por lá, na epoca cinema era, era status, cinema era importante, o ramo de negócio muito bom, eles construíram, eu nem sei se eles construiram ou adaptaram num, num barracão que eles tinham lá, eu não me lembro disso

DARA: Eu acho que era um barracão porque hoje em dia é uma loja de, nem é uma loja, é um negócio de conserto de carro, e eu acho que não mexeram muito no prédio na estrutura então eu acho que era um…

CHICO: Um barracão

DARA: Um barracão assim

CHICO: Era um cinema que me consta, fui uma vez lá, era pequeno, que tinha trezentos lugar, duzentos e cinquenta, trezentos lugares

DARA: E o… o cine colonial

CHICO: O Colonial aí, que eu tenho lido a respeito, não fui eu que inaugurei esse de Colonial, o cine Colonial foi reformado num prédio que ele era da família Audi, pelo Lucidio Ceravolo e posteriormente foi meu sócio e sergio Viana que era de São Paulo em cinquenta e quatro, em cinquenta e seis, eu tive uma amizade com o Sérgio Viana, ele falou assim “Chico ce não que compra minha parte no cinema”, “quero, quanto cê que”, acertamo o preço lá, aí eu fiquei sócio do Lucidio Ceravolo que é dono do cine marrocos, São Paulo, cinema de campinas, era um grande exibidor, nós ficamos socio, ai eu fiquei conhecendo a família, no fim fiquei sócio do irmão dele, e da Roma filmes, e o irmão dele que acabou ficando sócio da cinema do interior, e ali começou, mas a inauguração e a construção, a primeira reforma melhor do cinema não foi do meu tempo eu só comprei

DARA: Ah, entendi, e como é que era o cine colonial assim antes ou depois

CHICO: O, antes era um barracão, que fendia material de construção essas coisas, depois de reformado, era um cinema de quinhentos lugares, pequeno na época, quinhentos lugares, o Palácio tinha mil, o plaza tinha mil e cento e trinta, e era um cinema popular, bem popular que funcionou bem, depois dai nos comprou o Palácio, que era dos irmãos Curi, eles construíram o cine Palácio, em cinquenta e seis, acho que foi, e nós compramos acho que em sessenta e um, sessenta e dois, compramos dele, também não fui eu que inaugurei, não fui eu que construí

DARA: Ah, entendi

CHICO: Eu construí somente o Plaza, esse sim

DARA: Foi o único que ce construi então de todos, então foi o Plaza?

CHICO: Foi, os outros era, já existiam

DARA: Ah, entendi, e sobre assim outras salas, assim de exibições que existiram assim ai, não sei o quanto o cê sabe, mas chegou a frequenta o cine são José

CHICO: Sim, passava seriado, no são José, e eu assisti toda semana eu ia lá para assistir seriado

DARA: E você acabou nunca comprando prédio

CHICO: Não porque ficou nessa dúvida, ou comprova o prédio ou construía, e eu optei por construi Um cinema em vez de comprar o prédio, reformar, ele era um teatro, o são José nem, tinha todo o aspecto de teatro, construção de teatro, não era cinema, foi feito, transformado em cinema colocado uma tela e umas cabinas de projeção

DARA: Entendi (Risos), a coisa não, e você já então ouviu falar do cine iris assim

CHICO: O meu pai falava que existia um cine iris, que por, que minha mãe chamava iris por coincidência, que era o cine Íris, que era na rua governador mas eu nunca soube, aonde era que local, a localização, nem quem era proprietário do cine Íris não sei

DARA: Entendi, e tava conversando com você, que eu descobri que existiu esse cine biju, ele pareceu realmente ter sido um cinema né, porque ele teve realmente todos, ele teve realmente todos os cinemas que eram só temporários, o cine biju pelo que parece, que foi um trabalho de detetive que eu fui fazendo, pelo que parece ele foi realmente um cinema ele era onde foi, que dizem que o cine biju foi o cine iris, e tambem dizem, também, que foi no mesmo lugar onde um dia depois foi o broadway, você acha que

CHICO: O broadway, eu acho que não

DARA: Não no mesmo prédio, que foi num lugar, demoliram e depois de uns anos, que agente ta falando de mil novecentos

CHICO: Isso daí, eu, eu pesquisei também a respeito desse cine iris, nunca achei nada que falasse, quem era o proprietário, nada nunca

Dara: Cê acha que…

CHICO: Não consegui

DARA: Cê acha que tem chances assim de ter sido nesse mesmo lugar que o broadway? Que foi demolido

CHICO: Eu acredito que não, porque olha, quando eu comecei a frequentar cinema já existia o broadway, foi construído para cinema do joão José Corrêa, era o proprietario do predio, não sei quando que ele comprou se ele mesmo era dono do terreno, mas só sei que o prédio, acredito que até hoje seja da família do João José Corrêa, médico, mas da minha epoca de, de juventude, tudo, nunca ouvi falar de alguém que conhecesse, o cine, que conheceu o cine Íris, e o ideal sei lá

DARA: Entendi

CHICO: Isso daí eu acho que se perdeu no tempo

DARA: Se perdeu também acho

CHICO: Deveria ser alguma sala pequena, acredito, projetores ultra antigos, imagina em mil e novecentos e trinta

DARA: Então, e o hoje em dia o clube coronel barbosa, antigamente ele era o clube piracicabano, e dizem também que havia exibições nesse clube piracicabano

CHICO: Não, o coronel barbosa existe até hoje, o clube atlético piracicabano, era em vila rezende o clube de futebol, e tinha a sede, e exibia filmes, eu fornecia filmes pra eles, acho que era uma vez por semana, era alguma coisa assim, não era um cinema propriamente de rua nada, era pros frequentadores e sócios do clube atlético piracicabano, mas na vila rezende, nao tem nada haver com o coronel barbosa

DARA: A entendi, e agora tamo indo mais pra trás (Risos), e teve existiu o teatro santo Estefan, é…

CHICO: Esse eu conheci

DARA: Esse ce conheceu, ce sabe se em algum momento do tempo de vida dele teve alguma exibição de cinema la

CHICO: Não, eu assisti peça de teatro la

DARA: Mas cinema

CHICO: Não, nunca, nunca soube que la exibia filmes

DARA: É aquelas informações farsas que eu to encontrando

CHICO: Eu veja bem, eu to dizendo da minha época né, que dizem muito antes, não posso informar, mas que eu me lembre, que eu conheci, eu tinha o que? quinze anos por ai, dezesseis anos lá era, sempre foi teatro

DARA: Entendi, e sobre a primeira exibição de cinema em piracicaba, o senhor sabe de alguma informação

CHICO: A mesma que eu tenho do cine Iris, onde teve ter sido a primeira exibição ne? Ninguém sabe quando foi a primeira exibição ne

DARA: Eu encontrei um recorte de jornal, que parecia verídico, que parecia real, que falava que foi num salão contigo ao chopps

CHICO: Ao?

DARA: Ao chopps, so tenho essa frase, que depois é o artigo, a notícia era falando “vem ver cinema, cinema é isso”, falando o que era cinema

CHICO: É eu acho que eu vi esse artigo ai viu

DARA: Mas assim, onde é esse salão contigo ao chopps, que é essa francesinha

CHICO: Que eu soube, era na governador, agora não sei aonde, nem esse ao chopp aí também não

DARA: É então, eu tenho assim algumas informações assim que falam daquela loja raia ne? que é aquela loja de artigo esportivo

CHICO: É mais essa já é na rua moraes, na rua moraes é

DARA: É então eu li uma pessoa falando que era por lá, aí depois, eu li uma pessoa falando que era perto do Santos Estefan, zona (Risos)

CHICO: Que era o santos estefan, duvido que tenha alguma coisa perto porque ele ficava sozinho na praça Zé Bonifácio, ele ficava no fim né, no começo dela, vamos dizer do lado do posto da catedral, então tinha a rua que era envolta dele, ali depois do lado esquerdo tinha hotel, do lado direito tinha o coronel barbosa ali, mas não acredito, eu não conheci isso dai do Santos Estefan, eu conheci o teatro Santos Estefan, o teatro santos estefan

DARA: O teatro santos estefan então ele era na pontinha da praça, hoje

CHICO: O lado oposto da catedral

DARA: O lado oposto assim na praça?

CHICO: É ele ficava, vamos dizer assim, como se fosse o que? Uma volta assim, a catedral vamos dizer fica meio afastadinha assim da praça ne, mesma posição ficava o teatro Santos Estefan

DARA: Só que ainda na praça?

CHICO: Só que do lado, é, é na praça

DARA: Que coisa, é e eu também estava pesquisando umas coisas sobre o pré-cinema em Piracicaba ne, que em Piracicaba, eu não sei se o senhor sabe, mas é antes mesmo de ter o cinema quando tinha os ambulantes assim de teatro de sombras, de câmara escura, de panorama, todo essas coisas assim, Piracicaba sempre foi um ponto, quando Piracicaba nem era Piracicaba ainda, era uma província tinha um ponto de pre-cinema, então sempre teve um consumo de cinema e pré-cinema aqui em Piracicaba, que loucura não ter essa cidade ter esse amor pelo cinema

CHICO: Pode ser, Piracicaba foi uma das primeiras cidades a ter luz elétrica ne, talvez seja esse o motivo né, quer dizer, cinema era novidade desde mil e novecentos, des de mil e novecentos e noventa e qualquer coisa, é sei lá pode ser isso

DARA: Talvez é como se fosse uma analogia seria um amor cultivado des da infância assim? Por isso até hoje Piracicaba ama tanto o cinema

CHICO: É pode ser, a o veio artístico da cidade

DARA: E bom para ir finalizando aqui a nossa conversa, eu tenho algumas perguntas um pouco mais objetivas assim, a primeira é: você tinha alguma sala favorita de cinema assim? Pelo motivo que seja

CHICO: Vamos em duas ocasiões, a primeira quando existia o Broadway e o são José, era o broadway, eu frequentava todos os filmes eu assistia, a segunda sala durou pouco que era o plaza, e depois o rivoli

DARA: Entendi, e qual sala assim mais te marcou? Você já escolheu uma que mais te marcou?

CHICO: De lado negativo foi a queda do Plaza e é que eu, eu tive assim muito carinho pelo Colonial

DARA: Por que esse carinho?

CHICO: Não sei porque foi o primeiro cinema que eu tive e eu chegava a passar a noite toda na cabine reformando ali com os técnicos, dormia no chão da cabine que eu sempre gostei muito da parte técnica de cinema, eu cheguei a construir em madeira um projetorzinho com quatorze anos de idade, então essa parte técnica, eu sempre tive projetor e filmadora sempre, cheguei até ter uma reflex profissional de trinta e cinco milímetros, que a reflex da época era a câmera que era usada em hollywood era o melhor né

DARA: E quando você era criança assim voce fazia filminhos assim em casa

CHICO: Eu fiz um filme em dezesseis milímetros, e eu até mandei numa amostra da cinemateca de São Paulo fiquei com menção honrosa, em dezesseis milímetros e os atores eram só familiares certo, mas tinha enredo, tinha diretor, eu era o cameraman e o diretor, mas tinha um ou outro diretor de elenco da época, já tinha, e eu fiz esse filme, em mil e novecentos e cinquenta e um eu acho

DARA: Que legal

CHICO: Depois eu participei da produção dos três garimpeiros como assistente de diretor, mas o meu nome não aparece nos créditos porque eu briguei com o diretor, e depois de uns trinta anos encontrei com ele em roma, e nos abraçamos e tudo, ele era italiano veio da Vera Cruz, Jane Pons, pois é a minha ligação foi cinema foi, e eu assisto filme todos os dias em casa mais de um

DARA: Então você não vai mais ao cinema?

CHICO: Não, eu fui a ultima vez que eu fui assisti um filme, eu fui e falei “não quero mais assistir filme em cinema”, primeiro, eu sou muito critico com o som e projeção, ta fora de foco, vamo falar com quem, vamo falar la em cima para avisar que ta fora de foco o filme, o som da muito alto, vou ser chato de ir la e falar “viu o som ta muito alto, o som ta ruim ta distorcendo, o grave ta muito forte, o agudo”, então eu sou critico nisso dai, então desisti de, de assistir filme no cinema

DARA: E qual foi então a última vez que você foi no cinema? Cê sabe?

CHICO: Em Santos, faz uns vinte e cinco anos mais ou menos, eu assisti um filme lá

DARA: Que filme?

CHICO: Não lembro do filme, porque a minha sobrinha queria assistir, e nós fomos assistir o filme lá nós estávamos no Guarujá tínhamos ido a Santos, fomos num shopping e nós fomos assistir um filme, não me lembro do filme não, aliás eu lembrei o filme que inaugurou o cine Palácio, Lili

DARA: E sobre o que era esse filme?

CHICO: Era um musical, procura saber sobre o filme Lili

DARA: Não conheço o filme Lili, vou atrás pra ver o que, que é

CHICO: Se eu não me engano era da metro o filme, fez muito sucesso na época

DARA: E você lembra qual foi o último filme que você viu em sala de cinema em Piracicaba?

CHICO: Não lembro viu, é que eu não assistia muito filme nos meus cinemas eu não gostava porque eu, eu me irritava com certas coisas certo

DARA: Tipo o que?

CHICO: Por exemplo eu tava assistindo eu via que tava um pouquinho fora de foco eu ja corria na cabine, “acerta o foca ta fora de foco”, o som ta muito alto, eu corria la na cabine (Risos)

DARA: Não conseguia relaxa

CHICO: Não (Risos)

DARA: (Risos) E você gostaria de ir mais no cinema hoje em dia assim?

CHICO: Não tenho a mínima vontade de cinema viu

DARA: Por causa desse…?

CHICO: Não, não tenho mais interesse, aliás depois da pandemia nem saio de casa (risos), eu tinha escritório, não tenho mais fechei o escritório e fico em casa, assistindo televisão, se conhece minha sala de televisão? Aqui de televisão né?

DARA: Conheço (Risos)

CHICO: Então eu fico assistindo em casa filmes e gosto as vezes de assistir filmes antigos que são os melhores, que tem roteiro, que tem direção, que hoje, hoje tá difícil, os filmes novos, não tem roteiro mais, não tem a velocidade do filme, o filme que caminha rápido, que caminha como tem que ser, são filmes olha de terceira categoria, filmes baratissimos

DARA: Entendi, é…

CHICO: As produções que a gente assiste hoje, elas claro tem os que vão do cinema, no circuito normal de cinema, mas os que vão direto para o streaming produção super baratas

DARA: Entendi, faz sentido sim, e eu queria saber também o que significou para você ver um filme no cinema?

CHICO: Ah, eu, eu me entregava nos filmes sempre, por isso que eu não gostava de barulho de jeito nenhum, eu participava vamos dizer da emoção do filme, então, era muito gostoso

DARA: Entendi, então tem alguma história, algum fato, alguma coisa que você acha que faltou falar, que faltou contar?

CHICO: Não, acho que é essa história

DARA: Essa é a história

CHICO: Que da minha época é real, é a verdadeira

DARA: Entendi, então pra finalizar, finalizar mesmo

CÂMERA: Pede para ele falar sobre a questão dos frames

DARA: Também é tem essa parte, é a gente vai capturar um frame da gravação, então sera que tem como so o senhor olhar para a câmera ali que a gente vai fazer um fotinho (risos)

DARA: É tá ótimo

CÂMERA: Isso

DARA: É para finalizar mesmo, eu queria muito entregar para voce um presentinho (risos)

CHICO: Opa

DARA: De agradecimento por ter topado participar, eu fiquei muito feliz foi muito importante

CHICO: Obrigado, muito obrigado

DARA: É o que eu mais gosto, é doce, bala, essas coisas, tanto que tem açúcar (risos), é eu fiz uma lembrancinha (risos), com uma frasesinha

CHICO: Não adianta se olhar não que eu não vou dar pro ce, i muito obrigado Dara