Dona Maria
DARA: Bom, (risos) prazer estar aqui com a senhora, fiquei muito feliz que você aceitou! Acho que para começar podia só falar o seu nome completo.
DONA MARIA: Meu nome é Maria Laudelina Pereira Reis.
DARA: Faz quanto tempo que você mora aqui em Piracicaba?
DONA MARIA: Ah, já faz 50 anos.
DARA: Nossa!
DONA MARIA: 50 anos.
DARA: E a senhora agora tá frequentando aqui, né, a igreja mas a senhora frequentava aqui quando era um cinema também…
DONA MARIA: Cinema. Adorava. Trazia tudo as criançada para cá. (risos)
DARA: É?
DONA MARIA: Eu morava no Bairro Alto e eu catava todas as crianças, vou trazer pro cinema.
DARA: Ah, que bacana! (risos)
DONA MARIA: Meu filho hoje já tá com 36 anos, ele fala “Ai que saudade de quando a gente vinha no cinema, porque agora ficou ruim o cinema” E aí eu morava no Bairro Alto, catava criançada, vinha tudo pro cinema.
DARA: Ah que legal! E aí agora, hoje em dia vocês tem costume de continuar indo no cinema do shopping?
DONA MARIA: A gente vai, vai também!
DARA: Ah que bacana! E o que você lembra assim de quando você vinha aqui quando era um cinema, você tem alguma história, alguma coisa que você…?
DONA MARIA: Ah era muito gostoso, a gente tem muita saudade. Porque tinha aqui… o cinema aqui tinha… na praça, né? Isso daqui era o Tiffany e o de lá era o Rivoli e a gente vinha aqui e ia lá, mas a gente gostava mais daqui porque a gente descia. Eu morava no Bairro Alto e a gente descia e vinha aqui com a criançada.
DARA: Ah que legal! E o que que vocês assistiam? Você lembra de algum filme assim que te marcou assim?
DONA MARIA: As criançadas gostava de assistir muito… como que falava? É… Ai como que falava aquele filme lá? Que tinha… Ai esqueci como que é era. Ai Meu Deus, como que fala? Eu gostava mais de ação, né? Daí eu juntava com as minhas colegas pra assistir filme de ação. Agora a criançada gostava muito do Batman, tudo aqueles filmes antigo, eles gostavam. Do Pica-pau.
DARA: Ah que legal! (risos)
DONA MARIA: Agora eu com as minhas colegas, nós vinha assistir mais filme de ação. Que daí a gente deixava criançada e a gente descia a noite, pra assistir.
DARA: Ah que legal! E como você se sente voltando assim para esse espaço agora em outra forma assim? O que você acha de continuar mantendo vivo assim esses espaços, essas estruturas assim que um dia foram cinemas assim?
DONA MARIA: É, seria muito legal o cinema voltar para cá, porque faz falta.
DARA: Faz falta?
DONA MARIA: Faz muita falta um cinema no centro. Ah eu sempre falei, né? Porque lá pro shopping, às vezes depende de ônibus, né? E tem bastante gente que não tem carro e todo mundo reclama porque não tem mais cinema aqui.
DARA: As pessoas reclamam?
DONA MARIA: Porque antes era muito bom o cinema aqui e era na praça também, quando a gente não vinha aqui, a gente ia na praça e todo mundo reclama “Nossa por que tirou o cinema do centro, né?”.
DARA: Uhum.
DONA MARIA: Faz falta o cinema.
DARA: Faz. Imagino mesmo que faça falta.
DONA MARIA: Muita falta.
DARA: E você lembra de algum hábito assim que tinha muito no cinema de rua e não tem mais agora no cinema de shopping? Alguma coisa assim que tinha. Qual que você acha que é a maior diferença assim do cinema de rua pro cinema de shopping?
DONA MARIA: Ah porque assim, o cinema de rua nem todas as pessoas participa, né?
DARA: Uhum.
DONA MARIA: E a juventude, principalmente, gosta mais de ir no shopping.
DARA: Uhum.
DONA MARIA: Gosta mais do cinema, de tipo assim, um cinema que é cinema mesmo eles gostam mais que é o cinema de rua.
DARA: E você acha que se tivesse um cinema de rua então as pessoas iriam assistir?
DONA MARIA: Acho que assisti, lá no meu bairro já tem muito cinema de rua.
DARA: É?
DONA MARIA: É, a gente participava, a gente tinha um projeto que chamava “Sangue Bom” porque eu sou sempre engajada em tudo quanto é projetos sociais e a gente tinha lá uma rádio.
DARA: Uhum.
DONA MARIA: Daí a gente tinha umas meninas que era do “Sangue Bom” aí elas trabalhava com criança assim tipo drogado, né? Então chamava “Sangue Bom” e daí elas convocavam para fazer cinema de rua, que nós tem o nosso Centro Social lá e a gente fazia muito trabalho. Agora eles fazem, que a gente era da associação, agora eles fazem mas faz menos.
DARA: Entendi.
DONA MARIA: Porque eu sempre trabalho em programas sociais.
DARA: Que legal, que bacana.
DONA MARIA: É, eu gosto mesmo.
DARA: Ah que legal! E para você assim, para finalizar a nossa rápida conversa, o que para você significa ou significava ver um filme numa sala de cinema? O que que você sentia? Como é que…
DONA MARIA: Muito legal né. Muito bom assistir.
DARA: E você acha que com o cinema de shopping você ainda sente esse acolhimento essas coisas que o cinema proporciona assim?
DONA MARIA: É, o cinema do shopping a gente se sente mais à vontade, né? Porque no shopping a gente tá lá, tá seguro, né?
DARA: Uhum. Muitas pessoas falam que no cinema de shopping tem a segurança, né.
DONA MARIA: É, o cinema é no… Ainda mais hoje que é muita violência para você assistir cinema de rua, às vezes você tá lá vem bandaiada, então por isso que a gente tirou lá que tinha o cinema de rua. Tem o Bira que é um rapaz que até hoje ele trabalha com projeto de capoeira, aí agora ele tirou o cinema de rua por causa que é muita violência hoje em dia e no shopping não, no shopping é seguro.
DARA: Entendi. Por isso que as pessoas agora, né, agora não temos mais cinema de rua, né?
DONA MARIA: Não tem, agora não tem mais cinema de rua, né?
DARA: Não tem mais agora.
DONA MARIA: Por causa da violência, né?
DARA: Uhum, sim.
DONA MARIA: Hoje em dia muita coisa boa acabou por causa da violência.
DARA: Dos tempos modernos, né?
DONA MARIA: Era muito mais… Antigamente era muito gostoso, né? Fazer cinema de rua, fazer festa junina. Hoje em dia a gente não pode fazer mais nada, né?
DARA: Uhum. Que coisa, né? Que pena…
DONA MARIA: E é no shopping, a gente vai… porque por exemplo, pro centro, se tivesse um cinema aqui no centro lotava, porque todo mundo gosta do cinema, né?
DARA: Aqui em Piracicaba as pessoas gostam de cinema, né?
DONA MARIA: Todo mundo gosta de cinema. Porque no tempo que era aqui, lotava os dois no mesmo horário e lotava o daqui e o da praça.
DARA: Que legal! E tem assim alguma história, alguma coisa que você gostaria de contar assim, quando eu falei desse projeto que você lembrou ou você acha que…?
DONA MARIA: Ah, eu lembrei assim porque nossa… era tão gostoso! Eu pegava tudo as criançadas de cima, que morava lá em cima no Barro Alto, todo domingo eu trazia tudo as criançadas para vir no cinema. Hoje em dia estão tudo homão velho “Ai lembra quando a gente ia no cinema? Era tão gostoso.” Falei “É verdade”. Era muito gostoso trazer tudo criançada para assistir. Sessão da tarde era muito gostoso.
DARA: Ah que bacana! Para agradecer aqui, eu separei um negocinho pras pessoas que gostassem, que topariam conversar comigo, eu queria entregar pra senhora em agradecimento, um bombonzinho com uma frase também de um cineasta que é do Hitchcock que ele fala que para enfrentar os medos dele, ele faz filme sobre.
DONA MARIA: É o Harry Potter? A criançada adorava Harry Potter. (risos)
DARA: Queria compartilhar com você, queria te agradecer por você ter topado conversar comigo assim brevemente.
DONA MARIA: Obrigada.
DARA: Eu que agradeço.
DONA MARIA: Eu que agradeço também.
DARA: Piracicaba, o cinema foi muito importante pra cidade, né? E aí pra senhora poder participar, a gente só precisaria que você autorizasse a gente usar a sua imagem. Aí você assinaria aqui pra gente só? É um projeto de TCC da faculdade.